Dora Kramer: incoerente e preconceituosa

A colunista do Estadão, Dora Kramer, habitual despejadora de bílis contra o PT e a candidatura Dilma Roussef, publicou no último dia 11, no Estadão, uma coluna com afirmações particularmente virulentas, acusando o PT de não aceitar o jogo democrático e “se apegar ao poder”.

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Sinceramente, fiquei injuriado. Com que moral vem essa senhora dizer que, para o PT, a alternância no poder não é “palatável”.

Pesquisei na Internet para ver se a senhora Dora Kramer teve atitude coerente com esse seu nojo em outras ocasiões. Particularmente quando o “trator” Sérgio Motta afirmou que o projeto tucano era “ficar vinte anos no poder”.

Como diz o ditado, não achei neca de pitibiribas. Sendo assim, enviei hoje um e-mail para a colunista.

kramerO texto completo do e-mail enviado está aqui:

 

Prezada Senhora

 Sou leitor atento e assíduo de sua coluna. Nem tanto pelo conteúdo, do qual quase sempre discordo, mas pelo fato da senhora escrever muito bem.

Na coluna do dia 11 de setembro último, no Estadão, a senhora escreveu um observação contra o PT que me deixou pasmo, pelo que revela de preconceito e incoerência.  Diz que “a alternância do poder não lhes parece palatável [ao PT]”.

Realmente é difícil entender de onde vem tal conclusão. Em primeiro lugar, porque nenhum – repito, nenhum – partido político cede voluntariamente o poder conquistado pelo voto. O PT já tem mais de trinta anos de existência, perdeu várias eleições para a presidência, ganhou três, até agora. Em vários estados e municípios, ganhou e perdeu eleições e entregou normalmente o cargo aos sucessores. Seria algo inédito no mundo – nunca na história mundial, poderia dizer o Lula – se o PT declarasse que estava satisfeito com três mandatos e que iria ceder o poder à oposição. Quem decide isso são os eleitores.

E, note-se, o PT jamais divulgou nem oficialmente nem por nenhum de seus filiados, algo como o que foi dito pelo falecido Ministro Sérgio Motta, e seu projeto de que o PSDB deveria ficar pelo menos vinte anos no poder. Procurei bastante, usando os mecanismos de busca da Internet, e não encontrei nenhuma referência a qualquer observação de sua parte a respeito do caráter profundamente autoritário dessa pretensão do falecido ministro. Que, aliás, se revelou um péssimo vidente. Pelo contrário, tudo que consegui achar a respeito do famoso Serjão, escrito pela senhora, são elogios à capacidade de articulação e de como ele conseguia manter o tucanato unido com sua capacidade de “tratorar” os adversários internos e externos.

A declaração do falecido ministro, aliás, se deu no contexto que se seguiu à aprovação da emenda da reeleição, quando recepcionou na sede do PSDB em Brasília um senador que se filiava ao partido.

Reeleição, aliás, conseguida com a compra de votos e com a truculência verbal e operacional não apenas do Sérgio Motta, como também da coorte parlamentar fernandista. Sérgio Motta deu a declaração no contexto de uma disputa com os antigos aliados dos tucanos no governo, o falecido PFL, cujos remanescentes se abrigam hoje no DEM, hoje a caminho da extinção.

E é bom recordar que o PT, em suas instâncias diretivas, recusou a apoiar o canto da sereia de alguns de seus militantes que pediam outra reforma constitucional, que possibilitasse o presidente Lula disputar mais um mandato. Emenda que poderia ser aprovada, certamente, sem apelos à sanha monetária de parlamentares, diante da imensa popularidade que ele dispunha naquele momento. O PT recusou os truques e prestigiditações para o tal terceiro mandato. Lançou candidata e ganhou mais uma vez as eleições

O que me fez recordar, falando de métodos para ganhar eleições, da ação da PF contra a candidatura da Roseana Sarney. Como diz o Mino Carta, até o reino mineral sabe que por detrás disso estava a candidatura do Serra à presidência, quando finalmente o Lula se elegeu presidente. O então senador-candidato manipulou e usou o aparato do Estado para alcançar seus propósitos partidários e particulares.

Infelizmente, senhora colunista, o sistema político brasileiro e suas imperfeições institucionais permitia esse tipo de ação. E a presença de gente de todos os partidos dentre os funcionários da PF até hoje permite os vazamentos selecionados de informações, principalmente às vésperas das eleições.

As respostas do PT às propostas da senhora Marina Silva decorrem das declarações que ela faz, das atitudes que toma, das vacilações que expressa. E que simplesmente abrem margem para que o PT, a candidata presidenta Dilma Roussef e demais militantes contraponham as propostas do partido à volubilidade de biruta de aeroporto da candidata que se diz bafejada pela Providência Divina.

Um pouco mais de coerência em suas opiniões, senhora colunista, só pode reforçar sua credibilidade.

Atenciosamente

Felipe Lindoso

 

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