Uma das coisas que gosto de cultivar, quando possível, é o que chamo de “cultura inútil”. Ler coisas que não têm nada a ver com os interesses e necessidades, mas que são divertidas e bem escritas. Informativas. Coisas que The New Yorker ou a London Review of Books publicam. Enfim, combustível para o “livre pensar é só pensar”, como dizia o Millor.
Infelizmente estamos vivendo “tempos interessantes”, segundo os chineses. E um dos fatores mais “interessantes” são os ex-abruptos desse ensandecido que está no Planalto, como essa claudicante frase que está acima. Isso me fez lembrar de um personagem que quase “esquentou” a guerra fria, com suas propostas.
Trata-se do general da força aérea dos EUA Curtis LeMay, com uma longa trajetória de ordenar bombardeios de alvos civis e forçar os pilotos dos EUA a voar mais baixo que o originalmente previsto para acertar melhor os alvos, apesar do evidente aumento de baixas entre eles. A decisão de voar mais baixo foi o resultado de um relatório então preparado pelo futuro Secretário de Defesa Robert McNamara, que dizia que voar alto era o resultado de “covardia” dos pilotos. LeMay ordenou os pilotos a voar baixo e quem abortasse a missão passaria por corte marcial por covardia…
Depois de comandar bombardeios na Europa, LeMay foi transferido para o Pacífico. Repetiu as táticas e as “aperfeiçoou”. Foi o responsável pelo maior bombardeio convencional da II Guerra Mundial, matando 100.000 civis em uma única noite de bombardeio incendiário sobre Tóquio. Deixou os bombardeios de cidades alemães no chinelo.
McNamara, que conhecia bem a peça, declarou no documentário A Névoa da Guerra (The Fog of War), quando fez um mal-ajambrado mea culpa pela Guerra do Vietnã, que tinha certeza de que, se a guerra fosse ganha pelos alemães e japoneses, LeMay (e provavelmente ele também) seriam julgados como criminosos de guerra.
Depois da II Guerra Mundial, e especialmente logo depois que os soviéticos detonaram uma bomba de hidrogênio, mas os EUA ainda tinham uma indisfarçável superioridade atômica, ele passou a defender um “ataque preventivo”, detonando deliberadamente a III Guerra Mundial. O argumento era exatamente similar ao do Bozo:
McNamara, que conhecia bem a peça, declarou no documentário A Névoa da Guerra (The Fog of War), quando fez um mal-ajambrado mea culpa pela Guerra do Vietnã, que tinha certeza de que, se a guerra fosse ganha pelos alemães e japoneses, LeMay (e provavelmente ele também) seriam julgados como criminosos de guerra.
Depois da II Guerra Mundial, e especialmente logo depois que os soviéticos detonaram uma bomba de hidrogênio, mas os EUA ainda tinham uma indisfarçável superioridade atômica, ele passou a defender um “ataque preventivo”, detonando deliberadamente a III Guerra Mundial. O argumento era exatamente similar ao do Bozo: “Vai morrer muita gente, mas o que fazer?”
Durante a crise dos mísseis em Cuba, em 1962, ele defendeu ardorosamente o ataque nuclear generalizado, não apenas a Cuba, mas à União Soviética, com o mesmo argumento.
Para culminar a carreira, foi candidato a Vice-Presidente dos EUA na chapa ultra racista e de direita do George Wallace, em 1968.
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Durante a crise dos mísseis em Cuba, em 1962, ele defendeu ardorosamente o ataque nuclear generalizado, não apenas a Cuba, mas à União Soviética, com o mesmo argumento.
Para culminar a carreira, foi candidato a Vice-Presidente dos EUA na chapa ultra racista e de direita do George Wallace, em 1968.
LeMay inspirou dois dos personagens do filme do Kubrick “Dr. Fantástico”. O personagem de Sterling Hayden, Brigadeiro Ripper, comandante da base aérea que dá a ordem de ataque, e o General “Buck” Turgidson, interpretado pelo George C. Scott, o comandante da Força Aérea que está adorando a ordem de Ripper. Dois grandes atores em duas grandes interpretações da loucura militar.
Como se vê, essa atitude de total falta de empatia e desprezo pelas vidas em função de um “objetivo estratégico” não é estranha ao pensamento militar. O Bozo tem antecessores. E terá sucessores.