Agora é moda. Quem não é negro não pode falar de questões sobre negros; quem é homem, vixe vixe, não pode falar nada sobre mulheres (prestar solidariedade irrestrita a qualquer bobagem que se apresente como feminista pode…); quem não é índio não pode; quem não é LGTB não pode…
Só se pode falar do próprio umbigo.
Digo eu, esse tipo de posição não é nada mais que a pobreza de espírito se manifestando e castrando a criatividade, a liberdade de dizer o que pensa, o diálogo. Enfim, castrando as manifestações do SER humano e de viver em uma sociedade múltipla, contraditória, violenta. De classes, em suma.
A palavra nasce no cérebro, e o cérebro dos seres humanos tem as mesmas capacidades. Pode sentir empatia do mesmo modo como pode sentir ódio. Pode ser alienado ou militante. Mas, em todos os momentos, é a palavra de um ser humano, que deve ser responsabilizado sobre suas ações, atitudes … e palavras. Mas não pode ser desqualificado por falar. E o combate às posições dos outros não se faz alegando “o lugar da fala”, muito menos desqualificando alguém por conta disso.
Cada um de nós é o produto de sua história e a da sociedade onde vive. E se não podemos falar da história dos demais, nos reduziríamos simplesmente a seres perdidos no próprio solipsismo.
“Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça”, já dizia o poeta.
Da minha parte, acho meu umbigo muito feio. Se falo, quero falar para fora, do mundo e para o mundo. Lutar com palavras, ainda que estas sejam vãs diante da estupidez.
O resto, sinceramente, é abobrinha de quem, simplesmente, não tem o que falar. De lugar nenhum, e a quem resta somente expressar, raivosamente, a própria mediocridade.
Felipe, a força da sua palavra brilhou, iluminada pelos brilhos do grande poeta e do grande pintor “degenerado”. Gosto de ler os seus textos. Um abraço. Maria Lúcia.
Sim, a literatura é alteridade por excelência. Guimarães Rosa não precisou ser jagunço para escrever “Grande sertão: veredas”, Marguerite Yourcenar não precisou ser imperador romano e nem homem para escrever “Memórias de Adriano”, João Cabral não precisou ser retirante para escrever “Morte e vida Severina”, e assim por diante…