Assisti ontem o DVD que o Kenneth Branagh filmou da versão completa do Hamlet. Foi editada pela Versátil, e um amigo me emprestou. Já havia assistido a primeira parte, também emprestada, felizmente com as legendas em inglês. Mas enfrentar o bardo assim direto não é fácil…
Foi uma experiência imensamente gratificante.
Geralmente as encenações da peça são feitas com cortes, e raramente é encenada integralmente. Acredito que, filmada, esta seja única. São mais de quatro horas da peça, além de quase uma hora de extras (muito bons), que o segundo DVD trás.
É importante destacar que não se trata da filmagem de uma montagem teatral, e sim de um filme com o texto integral. Em ópera, acho que a versão do Don Giovanni (Mozart), filmada pelo Losey, de 1979 (também editada pela Versátil) seria equivalente em qualidade.
A encenação está magnífica, os atores ótimos. Branagh aproveita atores que já fizeram o papel principal há anos, como Derek Jacobi, que assume o papel de Claudius, Sir John Gielgud, que faz uma ponta como Príamo (junto com Judi Dench – Hécuba). Além disso, não hesita em usar atores hollywoodianos, que se saem muito bem: Jack Lemmon como Marcellus, Julie Christie como Gertrudes, Billy Crystal como um dos coveiros, Charlston Heston, como o rei da troupe ambulante, Robin Williams (Osric) e Kate Winslet, maravilhosa como Ophelia.
Além do estúdio, as cenas no Palácio de Blenheim são suntuosas, e os cenários são muito bem feitos. A ação é transportada para um tempo mais ou menos indefinido entre os séculos XVIII e XIX, que fica muito bem.
Um único senão no DVD é a ausência do crédito da tradução.
Acredito que tenham usado o texto do Millor Fernandes, que é bem fluente, nada pomposo como a de F. Carlos Almeida e Oscar Mendes, da já velhusca edição da Nova Aguilar. Não tenho em mãos a edição do Millor, mas minhas suspeitas derivam do fato do espectro do pai de Hamlet, ao descrever seu envenenamento, usar a palavra ébona, que foi usada por Millor (e que não está no Houaiss, no Aurélio, no Porto nem no Michaellis). A edição da Nova Aguilar usa meimendro, para denominar o veneno.
A ausência do crédito do tradutor é uma falha grave de informação. Felizmente não chega a estragar a beleza da encenação e a importância do DVD.
Recomendo vivamente.