Confesso: acho Buenos Aires uma belíssima cidade, há muitos autores argentinos que curto bastante, como churrasco à vontade, e se bem que é lenda essa história de que existem mais livrarias em Buenos Aires que em todo o Brasil, sem dúvida a tradição de cultura e a ênfase na educação dos argentinos bate a da Pindorama. De longe. Mas não me sinto bem com uma certa megalô hermana. É aquela velha piada que define “cientificamente” o Ego: “É aquele pequeno argentino que cada um de nós trás dentro de si”.
Mas devo acrescentar mais algumas admirações.
A politização dos argentinos. Apesar da ambiguidade dessa história do peronismo – incluído aí a porra-louquice dos montoneros, que também bateu as daqui de longe – a politização dos argentinos é um fato. Não é de hoje, e nem ocasional. É de sempre, e constante. Não nasce de ocasião, é permanente, e sempre está nas ruas.
Eles também já passaram pelos traumas de golpes, lá como cá.
Mas, nessas últimas eleições, deram um banho de maturidade política em nosotros. A campanha presidencial foi dura, disputada, e o resultado final apertado.
Mais estreito do que as daqui.
Vejam só os resultados do 2º. turno, acá e allá:
Brasil:
Dilma – 51,65% dos votos
Aécio – 48,35% dos votos
Argentina:
Macri – 51,40% dos votos
Scioli – 48,60% dos votos.
Ou seja, a vitória do conservador Macri (que eu lamento) foi mais apertada que a da Dilma.
O Scioli cumprimentou o vencedor e foi cuidar da vida.
Por outro lado, a coalização do Scioli não permite que Macri tenha maioria absoluta. A disputa política – e nas ruas – será certamente dura. Mas alguém ouviu falar de “terceiro turno” lá para as bandas do Plata?
Vejam os comentários de Aníbal Fernandez, que ocupa o posto equivalente ao de chefe da Casa Civil da presidenta Cristina Kirchner, no La Nación (o segundo jornal mais conservador do país):
“Para el jefe de Gabinete, Aníbal Fernández, la lectura obligada de las elecciones de anteayer es que fue “evidentemente un empate”. El ex candidato a gobernador bonaerense dijo ayer a la mañana que los 700.000 votos que separaron a Mauricio Macri (Cambiemos) de Daniel Scioli (Frente para la Victoria) hicieron que el oficialismo y la oposición estén de aquí en adelante ‘en paridad de condiciones’. También afirmó que si la diferencia hubiera sido la misma, pero en favor de Scioli, la oposición hubiera puesto el grito en el cielo. ‘Si hubiéramos ganado por 700.000 votos habría tanques en la puerta, aviones dando vueltas por arriba y denuncias hasta en la dirección electoral intergaláctica”, bromeó’.
Aníbal Fernandez, com certeza, também lê os jornais brasileiros e sabe perfeitamente o que aconteceu por aqui.