BOYHOOD – UM FILME A VER

boyhood cartaz Fomos assistir Boyhood – Da Infância à Juventude, do Richard Linklater, na antevéspera do Natal. Nem havia percebido que o filme durava quase três horas. E nem notei as horas passarem.

O enredo é simples, a partir de uma ideia engenhosa. Linklater selecionou um grupo de atores, incluindo um garoto que, no início das filmagens, tinha sete anos de idade, e foi emendando esquetes da vida desse menino-adolescente-jovem nos doze anos seguintes. Inclui uma irmã, a mãe e o pai, os filhos de outro casamento da mãe, colegas de escola, namoros, projetos de vida e tudo mais que acontece nesse período de vida.

Aparentemente, nada de extraordinário acontece. É um menino que cresce, vai para a escola, passa pela adolescência e, jovem, sai de casa para ir para a universidade. A mãe está separada, casa-se duas vezes no decorrer da história; a irmã é uma pentelha no começo que vai ficando simpática.

O pai, apesar de separado, está sempre presente na vida dos garotos.

Um elenco muito bom. Linklater aposta em um garoto, sem saber se ele realmente poderá ser o ator necessário para a adolescência. O mesmo com a menina, que é sua filha e tenta desistir no meio do caminho. Os dois personagens adultos, a mãe, Patrícia Arquette e o pai, Ethan Hawk, também estão ótimos.

Ethan Hawk já fez três filmes com Linklader, a trilogia “Antes do Amanhecer”, “Antes do Pôr-do-sol” e “Antes da Meia-Noite”. Sua estreia como ator foi como o jovem Todd, em “Sociedade dos Poetas Mortos” e também trabalhou em “Nação Fast-Food” e “Antes que o Diabo saiba que você está morto”. Faz o papel de Chet Baker em um filme que está em pós-produção, e em vários outros filmes que se destacam da mediocridade corrente.

Patricia Arquette é uma triz interessante, que valoriza até papeis bobos que andou desempenhando por aí. Um traço interessante em “Boyhood” é como ele aparece gorda, magra, feiosa, simpática e séria no decorrer dos anos. A impressão que dá é que, em alguns dos anos, ela realmente nem gostaria de estar filmando, mas avança com galhardia na história da mãe que engravida jovem, volta para a universidade com dois filhos e persiste até virar professora. No meio do caminho casa e se divorcia mais duas vezes, e os maridos, todos, são contrastes entre si. O personagem de Hawk, o primeiro, parece um sujeito meio irresponsável que se manda para o Alasca. Depois que volta, acaba se firmando como avaliador de riscos para seguradoras. No final comenta com o filho que “agora era o que a mãe dele gostaria que ele fosse quando se conheceram”.

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O pai aparece no filme com essa panca de irresponsável, sutilmente transmitida pela mãe. Fiquei sempre esperando que ele fizesse uma falseta com os filhos, mas resultou ser um pai muito presente, caloroso.

A história do filme é quase uma “não história”. Não acontece nada de notável ou particularmente interessante. Mas isso esconde a força do trabalho de Linklader, que vai exemplificando, com os pequenos esquetes de cada ano, como vai se formando uma personalidade. Ou, melhor dizendo, como evoluem as caraterísticas de cada um dos membros daquela família. Mãe, pai, filho e filha aparecem em sua transformação continuada. Os mais velhos, da juventude ao amadurecimento; par de filhos da infância à juventude.

É um filme muito “falado”, como os de Woody Allen. Aliás, o estilo de Linklader me lembrou o de Allen. Não pela introspecção e autocomiseração da cultura judaica que o Woody vai mostrando enquanto faz piadas, mas pelos comentários constantes que os personagens trocam entre si.

Segundo Linklader, a partir da ideia original, ele foi construindo os mini-roteiros a cada ano, considerando as transformações que observava nos jovens, na sociedade dos EUA e sua percepção. Dessa maneira constrói um documentário que, paradoxalmente, é absolutamente ficcional, mas transmite com fluidez a formação da weltanschauung do rapaz e as sutis transformações da sociedade onde vive.

Vale a pena ver. Curti demais.

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