ACONTECEU EM COARI – Crônica de Pedro Lucas Lindoso

Lí nos jornais que a Prefeitura vai revitalizar a Manaus Moderna. Lembrei-me de uma viagem que fiz a Coari, de barco “à jato”, para comparecer a uma audiência na Justiça do Trabalho. A saída do barco se dá na Manaus Moderna.

A região do nosso Mercadão tem uma luz especial no início das manhãs. Ainda era madrugada quando fui para lá, esperar o “à jato” que me levaria a Coari.  Seriam de oito a nove horas de viagem subindo o Solimões. “À jato”, porque se fosse no “recreio” levaria dois dias de viagem.

Os rios da Amazônia são caudalosos e misteriosos. Enquanto esperava pelo embarque me inebriava com a brisa que vem do rio Negro. Uma aragem suave e que se mistura com os cheiros de peixe fresco e as iguarias que se vende no mercado.

Vejo os peixeiros e carregadores. Quando menino, lembro-me que usavam uma espécie de turbante, feito de saco de farinha, enrolado e cuidadosamente posto na cabeça. O arranjo serve para melhor aguentar o peso dos tabuleiros de peixe, das pencas de bananas e de sacos de estiva em geral. Hoje notei que usam casacos com capuzes. É a modernidade.

Olho novamente para o rio e me alegro. Era domingo e eu estava preparado para viajar o dia todo subindo o Solimões até Coari.

Eu gosto de viajar pelos nossos rios. A paisagem amazônica, considerada monótona por uns, e perigosa por muitos, me fascina.

Já visitei vários lugares no Mundo. A baia da Guanabara, o mediterrâneo na perspectiva de Nápoles na Itália, a baia de San Francisco na Califórnia.  Mas nada supera a fascinação que sinto pela paisagem misteriosa da Amazônia.

E por fim segui viagem. Eram sete horas da manhã.  Foi repousante ver e ouvir os passarinhos, quando o barco se aproximava das margens. O rio é tudo para o homem ribeirinho. Fonte de vida, alimento, sustento, meio de transporte.

Passamos por Manacapuru, Anamã e por Codajás. O vento de lá é poderoso. E os passarinhos continuam a me encantar e a me distrair durante todo o trajeto.

Por volta das cinco horas da tarde o “à jato” chega a Coari. Lembro-me que hoje a Cidade do Gás já foi a Terra da Banana. Época em que a cidade não era tão supostamente rica e talvez mais feliz.

Quando a visito lembro-me sempre de meu amigo Francisco Vasconcelos, o mais ilustres dos coarienses que conheço. Membro efetivo, emérito, verdadeiro, pioneiro, indiscutível do Clube da Madrugada. Autor do clássico livro de contos “o Palhaço e a Rosa”, relançou esse ano o “Regime das Águas”. É um dos imortais da Academia Amazonense de Letras. É de Coari.

Hospedei-me como sempre no Hotel Alex, do Jorge, outro ilustre coariense. No dia seguinte, segunda- feira, ponho o paletó e vou a pé para o Fórum Trabalhista.

Em frente ao Mercado, um senhor, ao me ver naquela inusitada fatiota, se põe a minha frente e me dá continência. Não sou autoridade. Nunca fui militar. Nem sequer servi o Exercito. Nunca havia recebido continência. Quem será que aquele senhor pensou que eu era? Para não ser indelicado, respondi a continência, apesar de considerá-la totalmente indevida.

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