O carapanã é, antes de tudo, um chato.
A sua aparência, entretanto, revela o contrário. É ágil, magro, elegante. Possui a plástica implacável de quem sabe voar sem parar, com aparente objetividade.
É gracioso, apesar de cabeçudo, assume uma postura ereta quando pousada, seja na pele de alguém, seja esperando sobre uma folha para o momento de atazanar o ouvido de algum incauto. O carapanã não escolhe. Cata o primeiro que aparece: homem, mulher, criança, grávida, velho. Qualquer vítima satisfaz sua sanha.
Antes de pousar, sempre faz questão de voar rente aos ouvidos da vítima, emitindo um zumbido cruel e chatíssimo, agudamente monocórdico. Dizem que os cientistas nazistas se inspiraram naquele ruído chato e aterrorizante para os Stukas, que também desciam em picada
Quando pousa, pica, enche o bico com o sangue da vítima e, depois de mais alguma zumbidas, esconde-se em algum lugar sombrio para digerir o sangue sugado.
Depois de algum tempo, usa sua aerodinâmica zumbidora e sai caçando uma nova vítima. E pica. Mas, dessa vez, além de aporrinhar o ouvido da vítima, injeta na corrente sanguínea do coitado os resíduos do sangue da sugada anterior. E ai se o primeiro tiver malária, leishmaniose ou outra doença dessas que infestam as matas tropicais, pumba. Encheu a pancinha magra, aerodinâmica e esquelética e deixou na corrente sanguínea o vírus assassino que pescou na primeira.
Não é seletiva como seu primo que emigrou do Egito e se especializa em uma única doença, o dengue. Não, o carapanã não é nada seletivo. O que picou, corre o risco de ir passando, passando, infectando, transmitindo sofrimento e morte.
A abelha mamangá é de outro tipo. Sai da colmeia em busca do néctar que será transformado em mel.
É uma cientista nata.
O voo da abelha-mamangá, ou mamangaba, talvez pareça aleatório quando as operárias saem para recolher pólen e néctar. Mas pesquisadores da Universidade de Londres concluíram que, na realidade, os canteiros de flores são palco de elaborada coreografia. Cada uma dessas abelhas do gênero Bombus tem o cérebro do tamanho de uma semente de grama, mas pode realizar uma colheita tão eficiente que soluciona um enigma da matemática: o problema do caixeiro-viajante.
O desafio está em achar o caminho mais curto para visitar todas as flores antes de voltar para a colmeia. Um computador faria uma montanha de cálculos, avaliando as rotas. Já as mamangabas recorrem à memória espacial, reajustando a jornada por um método de tentativa e erro. (Dica: passar para a flor mais próxima não é a resposta certa.)
Os cientistas sabem por que elas agem assim: voar é exaustivo. Agora o que estão tentando entender é como elas fazem isso. Descobrir o que determina suas decisões talvez possa ajudar no aperfeiçoamento de nossas redes de transporte e comunicação.
Os dois insetos representam polos bem diferenciados dessa imensa diversidade da natureza. O carapanã é deletério, chato, inferniza a vida das pessoas com o zumbido irritante.
A mangangá, por outro lado, produz doçura e bem estar com enorme eficiência. Contribui para a eficiência de suas colegas de colmeia e é generosa, permite que os homens desfrutem também do mel que é coletivamente produzido na colmeia.
Coisas da natureza.
(Obrigado ao National Geographic)