Passei parte da manhã de domingo visitando a área antes ocupada pelo Hospital Matarazzo, desativado há anos, e que nestes dias abriga uma imensa exposição. O local foi comprado por um grupo de investidores e vai se transformar, segundo dizem, em um hotel de luxo e um centro cultural. Antes de mais nada, é preciso que se diga: é uma vergonha que a colônia italiana tenha deixado falir um hospital. Outros grupos étnicos, dos tantos que encontraram em S. Paulo refúgio, trabalho e prosperidade, mantêm hospitais de excelência, como o Hospital Sírio Libanês, o Hospital Einstein (judeus), o Hospital Alemão Oswaldo Cruz, o Hospital Nipo-Brasileiro, a Beneficência Portuguesa e provavelmente estou esquecendo de algum outro.
Uma exposição enorme, com instalações de dezenas de artistas.
Com certeza, um evento que deve ser visto por todos que moram em S. Paulo ou passarem por aqui até o próximo dia 12 de outubro. A preparação adequação e montagem foi um projeto que durou três anos, coordenada pela Base 7, do Arnaldo Spindel, Maria Eugênia Saturni e Ricardo Ribenboim.
Dito isso, devo confessar que tenho uma relação de muitos conflitos com as artes plásticas contemporâneas. Sinceramente, meu lado racional tem enormes dificuldades para perceber o significado dessas obras, principalmente das chamadas instalações. Me parecem, muitas vezes, simples objetos decorativos, e não raro algo feito simplesmente “pour épater les bourgeois”. Ou, talvez, não queiram significar nada mesmo se não a incompreensibilidade do mundo, tal como vista pelo autor. Minha neta Laura, que estuda artes plásticas, diz que é por aí, que os artistas não querem dizer nada mesmo. Apelo para o Bourdieu: se o campo das artes plásticas diz que é arte e valoriza isso, então é arte, e quem quiser que elabore sobre o assunto. Mas, também advirto, minha perplexidade é bem particular. Não sou crítico de artes, não domino esse campo. Compreendo muito bem que a apreciação de uma obra de artes plásticas exige uma compreensão mínima do contexto histórico em que este foi produzida, tanto da sociedade, quanto da própria história do campo artístico.
Eu só vejo, às vezes espantado, às vezes com um certo encanto pela imaginativa criatividade, e às vezes com a reação de simplesmente achar uma merda.
O “original”? e a miniatura. A garotinha que aparece na foto tentou enfiar a mão no que lhe parecia ser uma abertura.
Esse chinês aparece muitas e muitas vezes. Talvez seja o autor da instalação maior que vi outro dia no Ibirapuera, ao lado do Pavilhão da Bienal. O que ele quer dizer com esse lixo ou pseudo lixo arrumado em nichos é algo que me escapa. Transitoriedade? Descartabilidade? Qui lo sa? Mas já me disseram que é famosíssimo.
Uma conterrânea dele faz caligrafias sobre o piso, usando água. Isso teve que ser filmado, pela evidente transitoriedade da instalação.
E põe efêmero nisso.
Eu não sei se as melancias serão devidamente fatiadas e devoradas em algum momento no decorrer do evento. Ou talvez no dia 12 de outubro, no encerramento…
Nuno Ramos, e uma obra que deve fazer algum paralelo com sua obra “literária”? Lá na outra ponta está colado um violoncelo, também destroçado. Destroços, todos? Há um vídeo na instalação, que suponho mostre o processo construtivo, ou explique o que ele queria dizer. Não vi.
Outro vídeo – e era só vídeo, mostrava o que suponho ser o artista, com uma mochila nas costas, esmurrando, chutando e pulando em uma parede de tijolos. Outra sala exibia duas fotos ampliadas de nus masculinos (Narciso em versão mais exibicionista?).
As bandeirolas em silk-screen certamente poderão ser “recicladas” em estampas para saídas de praia. Será o produto final ou apenas um subproduto da instalação? Certamente eram bonitas, bem decorativas.
Destroços da civilização. Protesto contra os automóveis ou o caos urbano? Minhas perguntas quando vi.
Várias instalações mostravam árvores ou arbustos com formas exóticas ou com algum tipo de intervenção, como nessa, na qual o artista pintou os pobres troncos de dourado? Ganância das madeireiras? Destruição da natureza?
Mimese emborrachada da natureza?
A entrada:
E na saída:
O da saída já existia quando o hospital funcionava.
-E esse aqui, juro, estava no muro, do lado de fora. Poderia estar lá dentro?
É isso aí.